Meu bebê está crescendo, e agora?

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Esta semana me deu um estalo: Meu bebê está crescendo. Aos poucos, mesmo na correria da rotina do dia a dia, nos damos conta que o tempo está passando e nossa filha está crescendo. De repente os primeiros passinhos, as primeiras palavras, aquela primeira dancinha, a música preferida, as primeiras escolhas. É uma fase linda e intensa. Eles, os bebês, descobrem o mundo, mas sem soltar a nossa mão. Abraçam o mundo ao seu redor, sem nenhuma noção de perigo, eles se entregam à descoberta, ao desconhecido, ao novo. Porém, retornam ao nosso colo para se sentirem seguros, amados e amparados. À medida que ela cresce, a gente sente o quanto esta ligação com ela é profunda e restauradora. Os filhos crescem e desde cedo começam a mostrar a sua individualidade. E nós, mães, vivemos de amores por eles a cada nova descoberta, a cada gargalhada, a cada novo som pronunciado, a cada aprendizado.

Às vezes me pego refletindo se estou aproveitando ao máximo, porque olho pra ela, a cada dia, vejo as mudanças e já sinto saudades. Ao mesmo tempo em que me cobro se estou fazendo tudo certo e favorável ao seu desenvolvimento. Que tipo de memórias eu estou criando nela? O que ficará gravado e contribuirá com seu comportamento, personalidade e relação com o mundo ao redor? O quanto que eu preciso me transformar para dar melhores exemplos pra ela? O quanto que eu ainda tenho que abdicar para prover o que ela necessita, a cada fase? São muitas as dúvidas e cobranças que às vezes rondam os pensamentos de uma mãe. Acredito que muitos destes questionamentos internos, seguem conosco, a cada fase do filho. Não há uma receita a seguir. Maternar é sentir. Mas, há algo que fica cada dia mais nítido com o passar do tempo, estamos construindo a nossa relação mãe e filha. A cada olhar e sorriso, a cada comunicação instintiva nossa relação vem sendo construída e esta construção me fortalece como mãe.

Vemos-nos nela e através dela enxergamos melhor nós mesmos. Às vezes isso é preocupante (risos), e muitas vezes é motivo de muita alegria. Depende do que está sendo refletido. Dia destes falei para o meu marido que precisamos mudar algumas coisas urgentemente, antes que nossa filha absorva alguns de nossos defeitos ou o reflexo destes. E precisamos mesmo. Na verdade, a gente sempre busca ser a mãe perfeita para o filho (a). Mas, filho também é isso: o combustível necessário para aquelas grandes mudanças que precisamos realizar em nós. Eles nos ofertam a coragem e o amor necessários para estas mudanças. Eles são nossos fiscais mais atentos. A cada fase isto se apresenta com mais intensidade, à medida que eles “copiam” nosso comportamento e ações.

E a cada nova fase que ela entra, eu sinto um frio na barriga e me pergunto: E agora, como será? Como darei conta? Como ensinar? Como conciliar tudo? Como será nosso vínculo? É uma constante adaptação e começo a acreditar que seja assim uma grande parte das nossas vidas. Desde muito cedo a vida nos ensina que não deveríamos criar expectativas. Na maternidade não é diferente, apesar de existir esta díade mãe-bebê muito intensa, os filhos serão sempre eles mesmos, com sua personalidade e individualidade; Com seus gostos, escolhas e personalidade únicas. Foi assim comigo enquanto filha e agora vejo também observando no lugar de mãe. Às vezes me pego refletindo a filha que fui para minha mãe em cada fase. Minha personalidade forte e o quanto que minha mãe me conhece e sabia disso. Interessante é observar como estes resgates da nossa relação mãe e filha com a nossa mãe fazem parte de muitos momentos da nossa maternagem, da mãe que nos tornamos, da filha que fomos e somos e da mãe que queremos ser.

O que eu percebo através do crescimento da nossa filha é que ela agora além de tudo também é nossa “ampulheta” do tempo, aquela que a partir de agora nos mostra a percepção e medida do tempo de forma mais abrangente. É como se a nossa percepção do tempo, passado, presente e futuro tivesse mudado. E mudou. Até quando eu vou falar de algo que passou me pego dizendo: “Nem tínhamos Maria Flora ainda naquele tempo”, ou, “Maria Flora era recém-nascida quando fomos a tal lugar”… E assim também vamos contando e lembrando-se dos marcos de desenvolvimento dela junto aos acontecimentos das nossas vidas. Assim, tudo junto, porém, ela agora é o marcador do nosso tempo. É como aqueles marcadores de páginas de um livro. Cada novo capítulo da nossa vida agora é marcado por ela. A cada dia percebo melhor que ela é o elo da nossa família. O fio que nos une. Seu crescimento também traz amadurecimento para nós como pais de primeira viagem que somos.

É, meu bebê está crescendo. E agora? Agora seguramos as mãos dela e a levamos pra vida, mostraremos o mundo e a natureza, a dualidade, a realidade, o bem e o amor. Seguiremos aprendendo com ela, a cada dia, a valorizar este tempo precioso e que todos dizem que passa rápido, pois é, de repente abrimos os olhos e… Passou. Olho pra ela a cada nova conquista e desejo que a sua infância seja bonita, colorida, alegre e livre. Que estejamos presentes inteiramente. Que a gente cresça junto com ela.

Ao escrever, lembrei-me de um trecho do poema “O Pastor amoroso” de Fernando Pessoa, escrito pelo heterônimo Alberto Caeiro:

“Quando eu não te tinha

Amava a natureza como um monge calmo a Cristo

Agora amo a Natureza como um monge calmo à Virgem Maria

Religiosamente, a meu modo, como dantes,

Mas de outra maneira mais comovida e próxima…

Vejo melhor os rios quando vou contigo

Pelos campos até a beira dos rios;

Sentado ao meu lado reparando nas nuvens

Reparo nelas melhor

Tu não me tiraste a Natureza

Tu mudaste a Natureza,

Trouxeste-me a natureza para o pé de mim

Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,

Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais

Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente

Sobre todas as coisas

Não me arrependo do que fui outrora

Porque ainda sou.

Vai alta no céu a lua da Primavera

Penso em ti e dentro de mim estou completo […]”

(Alberto Caeiro, 1914)

3 comentários em “Meu bebê está crescendo, e agora?

  1. Bom dia minha filha. Gostei desse texto de hoje, que bom minha netinha Maria Flora já está engatinhando os primeiros passos e já falando algumas palavras, me lembro de você quando estava nessa fase de crescimento e agente embora trabalhando fazíamos o possível para dar o amor e o acompanhamento afetivo necessário a uma criança nessa fase em que se torna fundamental o carinho e a convivência em harmonia de paz, para que ela cresça num ambiente fraterno, já conhecendo e explorando tudo que pra ela se torna uma aventura de conhecimemtos e novidades a cada passo que a vida vai ensinando conforme orientação dos pais e familiares. Deus abençoe essa família maravilhosa, abraços e beijos de saudade.

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  2. Maternar é sentir. Lindo isso, Vanessa. E os filhos crescem e vão escolhendo o próprio caminho. As sementes se tornam adultos. Somos a raiz. Eles são os navios que foram feitos para o mar. Seremos o porto. Eis o fluir do tempo em nossas vidas.
    Que cada tempo seja degustado e lembrado com afeto.
    Beijos

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