Mães também sonham

Você já parou para se perguntar quais eram os sonhos da sua mãe? Quais são os sonhos dela hoje e se ela ainda sonha? Quais sonhos ela realizou na vida? Ou ela deixou isto pra lá há muito tempo? Ou ela não tem tempo pra pensar nisso? Eu não sei quais são os da minha, mas irei perguntar pra ela. Pois, agora eu sei que as mães também sonham. Sim, não perdemos o direito de sonhar por que nos tornamos mães. Muito menos o de realizar os nossos sonhos.

A história de maternidade de cada mãe é única, porém são histórias repletas de semelhanças no que tange fazer tudo que está ao seu alcance pelo bem estar dos filhos e da família. As histórias vividas pelas mães, em geral,  são repletas de renúncia e abdicação;  Muitas vezes dos próprios sonhos, objetivos e projetos. A maternidade nos faz redirecionar nossas vidas e nossas escolhas e também nos faz adiar alguns planos, pois precisamos dedicar mais tempo aos filhos, à família. Você já parou pra pensar que uma mãe que amamenta exclusivamente seu filho, ela vive durante meses com um único objetivo: nutrir o filho. Uma vida depende exclusivamente que ela produza leite. Há como mensurar o quanto de renúncia há apenas neste ato?

É muito comum ver mães que se redescobrem após a maternidade, descobrem novas capacidades e potenciais e mudam de carreira, de objetivos de vida, mudam também suas prioridades. Uma coisa é unanime, a prioridade na vida da maioria das mães é o bem estar de seus filhos. Muitas vezes mais do que seu próprio bem estar, o que pode ser um erro, pois, para cuidar do outro precisamos cuidar de si e estarmos bem para dar o melhor de nós. Porém, nem toda mãe tem uma rede de apoio, pessoas próximas  que sejam de confiança, ou, familiares por perto e que participem da rotina e aliviem esta carga emocional e mental oriundas de preocupações e afazeres; Carga esta que as mães levam consigo, lidando da forma que conseguem administrar. Quem é mãe sabe do que eu estou falando.

Mesmo as mães que tem rede de apoio, muitas delas também se sentem sobrecarregadas emocionalmente e “engolidas” pela rotina, com tempo escasso para investir em si, até mesmo para conseguir enxergar suas reais necessidades, o que exige atenção e tempo.  Nós sabemos que muitas de nós praticamos a nossa “maternidade possível” e não a “maternidade ideal” ou idealizada. Fazemos o melhor que podemos no momento e o que conseguimos dar conta.

Seja na melhoria da própria qualidade de vida, ou investir na carreira profissional, ou mesmo investir em projetos pessoais que foram engavetados e nem são mais lembrados ou almejados, a realidade é que muitas mães além de adiar, desistem sim de alguns de seus sonhos. Vivemos em uma sociedade de cultura patriarcal. Ao nos tornarmos mães é que descobrimos que a nossa sociedade em si não apoia verdadeiramente a maternidade e as demandas da primeira infância das crianças. Muitas empresas não apoiam a maternidade, muitos homens (pais) não apoiam suas esposas em sua maternidade, muito menos se importam com a abdicação de seus sonhos e existem milhares de mães que criam seus filhos sozinhas. Dentro deste cenário, elas vão literalmente se virando para dar conta de tudo, o que se torna impossível. Não somos super heroínas para dar conta de todas as demandas familiares, dos filhos, da casa, do trabalho e nossas demandas pessoais e ainda estarmos plenas. Há, na maioria das vezes, muita abdicação e até anulação da mãe para que tudo esteja aparentemente em “ordem”.

O que vemos com frequência nos grupos de apoio à maternidade são mães esgotadas física e emocionalmente, que ainda tem que ouvir definições fofas que “mães nem são gente”, “mães nem são humanas, é um outro tipo de ser”. Diversas definições romantizadas e bonitas relacionadas à maternidade que tentam abranger o amor e dedicação exclusiva das quais muitas mães doam durante toda uma vida. Porém, a realidade é que mães são gente sim e são demasiadamente humanas, repletas de fragilidades, isentas de perfeição e que possuem desejos e sonhos. Há muito que ser transformado ainda na sociedade, mas já podemos ver surgir um novo modelo de paternidade e de consciência dos homens na sua responsabilidade na divisão de tarefas com a mãe na criação dos filhos.

Muitas mães sonham em ter um tempo pra elas na rotina diária, nem que seja apenas uma hora livre no dia, sem estar correndo com nada, sem parecer que está numa maratona. Ah! Mas isto é sonho? Para algumas é uma realidade tão distante que se tornou um sonho. Outras, sonham em conseguir voltar a estudar. Algumas sonham com uma nova carreira profissional que estava em curso até, de repente, ela se tornar mãe; Algumas sonham com mais tempo para se dedicar a carreira atual. Outras sonham em conseguir praticar o esporte preferido, sonham em fazer aquele curso que planejaram tanto… Sonham com aquela viagem… Algumas sonham em encontrar um amor… (E por que não?).

Além de sonhar e lutar por uma sociedade mais igualitária para os nossos filhos, com mais respeito ao ser humano e mais oportunidades para todos, além de sonhar em vê-los crescidos, saudáveis e felizes, nós mães temos os nossos sonhos. Aqueles que são só nossos. Não é por que nos tornamos mães que precisamos nos desfazer deles ou nos anular. Podemos fazer o que é possível para sermos mães melhores, mas podemos sim sonhar e lutarmos para realizar nossos sonhos, e sem culpa. Sigamos conscientes da nossa missão com nossos filhos, apoiando umas as outras, mudando o mundo aos poucos através do que deixamos de valores para eles. Mas, sem deixar de sonhar.  Sonhar nos move para o futuro que queremos construir. Impulsiona-nos avante na vida mais felizes com quem nos tornamos.

Você deixou algum sonho para trás após a maternidade? Ainda acha que vale a pena buscar realizá-lo? Então, volte duas casas no tabuleiro da vida e recomece a sonhar.

“Não há nada tão nosso quanto nossos sonhos” (Nietzsche)

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Fotografia registrada por Daniel, meu marido, em Monte Verde-MG.

4 comentários em “Mães também sonham

  1. Parabéns! Excelente reflexao 👏👏😍😍
    Nos faz pensar sobre nossos próprios sonhos e como tmb refleti que a maioria dos filhos veem a mãe como se elas sempre tivessem sido mães e esquecem de pensar sobre o que vc abordou, seus sonhos, o que precisou abrir mão para nos criar e etc. Boa reflexão grata 🌹🌹

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  2. Muito legal, prima. Você consegue ser crítica sem perder a ternura. Obrigado por compartilhar conosco a tua experiência como mulher e mãe, por meio de uma maneira de escrever simples e poderosa. Parabéns.

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